Num mundo globalizado e uma
economia aberta dependendo do exterior, particularmente do espaço europeu, Cabo
Verde está a sentir os efeitos da crise financeira internacional. A análise é
do antigo Governador do Banco Central, Olavo Correia.
O país continua
a apostar na sua principal fonte de rendimento: o turismo. na imagem: Stand de
Cabo Verde na Feira Internacional de Turismo em Berlim (2011)
Onde se sente a
crise
Olavo Correia
contrapõe este argumento afirmando que "a nível macro-económico não houve
uma compreensão automática" da crise por parte do governo caboverdiano.
Olavo Correia enumera alguns aspetos que, a seu ver, mostram que Cabo Verde
está em crise: "Em primeiro lugar tem havido uma redução muito forte do
investimento direto estrangeiro".
Até mesmo a
procura de imóveis no mercado imobiliário turístico, que tinha tido um grande
impacto na dinâmica do crescimento económico do país, está "estagnada, o
que tem consequências a nível do emprego". Olavo Correia acrescenta ainda
que o acesso ao financiamento a empresas é "cada vez mais difícil e mais
restrito", tal como "o acesso ao governo tem sido cada vez mais
dificultado."
Restrições
orçamentais
Olavo Correia
avisa que Cabo Verde vai viver nos próximos três anos grandes restrições
orçamentais. De acordo com o antigo governador do Banco Central, o país fez
recentemente uma estimativa reduzindo a perspetiva de crescimento
económico para valores na ordem dos 5%, quando tinha uma perspetiva anterior na
ordem dos 6%".
Cristina Duarte
reconhece que durante o primeiro semestre de 2011 houve uma "diminuição em
cerca de 27% do investimento direto estrangeiro e esta cada vez mais a aumentar", fluxo importante a nível
"da nossa balança de pagamentos."
Instrumento de
combate à crise
A Ministra das
Finanças tinha esperanças no Orçamento do Estado de 2012 como uma luz
ao fundo do túnel. Contudo nao surtiu efeito. E o de 2013 e mais agravante. "O primeiro objetivo, infelizmente, é que o orçamento continue a ser
o instrumento mais importante de combate à crise internacional", afirma.
"Os
cabo-verdianos têm de compreender" que o país está num período de
contenção de despesas
No entanto,
Cristina Duarte apela à compreensão dos cabo-verdianos dizendo: "Estamos
num período de contenção de despesas. Eu acho que as famílias cabo-verdianas
têm de compreender isto."
Reflexo da crise no ensino superior
As familias cabo-verdianas ja tomaram a consciencia da crise. Pois, alguns pais cujos os filhos estavam a frequentar o ensino superior fora do pais ja providenciaram o seu regresso mesmo antes da conclusao do curso. O facto deve-se a perda do poder economico de apoio aos pagamentos dos custos inerentes. Por outro lado, ha aqueles que procuram alternativas nas universidades no pais. A aluna Andreia do quarto ano do curso de Ciencias da Comunicacao, vertente da publicidade e um exemplo. Ela estava no Recife - Brasil quando foi informado pelos pais que regressaria ao pais o mais breve possivel. Ainda ha outros alunos que abandonam as universidades e procuram integrar-se no mercado de trabalho do pais onde se encontram.
Mesmo nas universidades nacionais a situacao da crise e visivel. Pois, Anilson, aluno finalista da mesma turma que a Andreia, fez nos saber que a situacao dos estudantes nas universidades equipara-se aos campionatos eliminatorias de footbol. Comecaram com cerca de sessenta alunos e no ultimo ano sobram apenas vinte alunos, a maior parte das desistencias deve-se a falta de recursos financeiros para suportar o pagamento das propinas.
A crise nas Universidades
O Reitor da Universidade Jean Piaget lamenta algumas medidas regurosas que foram tomadas, causando alguns constrangimentos aos alunos sobretudo aqueles que pagam normalmente as propinas das frequencias e que por infelicidade nao conseguirem a tempo o montante da propina do ultimo mes que antecede o mes dos exames e acabam por ser apanhados pela tabela e nao sao permitidos a realizarem exames. A situacao e constrangedora mas a instituicao tem os seus compromissos financeiros de funcionamento e sobretudo com os professores quem lidam directamente com os alunos.
A FICASE, entidade da accao social apresenta algumas medidas de luta contra a crise
A doutora Elizabete, uma dos administradores da Fundacao e responsavel pela concessao de bolsas de estudo para o ensino superior e apoio no pagamento das propinas informa que uma das medidas de combater a crise e apoiar os jovens com bolsa de estudos para a formacao, no sentido de que cada um possa criar o seu proprio emprego. Nesta perspectiva, um jovem formado constitui por si so um instrumento de luta contra crise e potencial promotor de actividades geradoras de emprego. Assim a fundacao, para alem de atribuir bolsas de estudo aos alunos que reunem os requisitos exigidos para tal, ainda, em parceria com as universidades apoiam no pagamento das propinas de alguns alunos.
Sabino Baessa